Ronilso Pacheco

Ronilso Pacheco

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Trump sinaliza o nacionalismo cristão como dogma central de seu governo

O presidente Donald Trump disse na quinta-feira (6) que determinará a criação de uma "força-tarefa" para "erradicar o preconceito anticristão" nos Estados Unidos e processar casos que ele chamou de "violência e vandalismo anticristão".

Trump falou no tradicional Café da Manhã de Oração, um evento bipartidário que acontece há mais de meio século e é um dos mais concorridos encontros anuais de diálogo com o presidente do país.

No café da manhã, Trump disse que seu governo trabalharia para "proteger os cristãos em nossas escolas, em nossas forças armadas, em nosso governo, em nossos locais de trabalho, hospitais e em nossas praças públicas" e "trazer nosso país de volta como uma nação sob Deus, com liberdade e justiça para todos".

E essa é uma parte central, e mais perigosa, do seu discurso. "Trazer o país de volta como uma nação sob Deus" não é uma demonstração de fé fervorosa de Trump, mas uma afirmação clara de que seu governo está orientado pelo nacionalismo cristão enquanto ideologia política-religiosa.

O nacionalismo cristão é reconhecido hoje nos Estados Unidos por especialistas, pesquisadores e analistas como a principal ameaça à democracia americana. É uma ideologia política de extrema-direita que se vale, quase sempre, de uma gramática religiosa para justificar sua visão de mundo.

Um uso ultraconservador e extremista do cristianismo como sendo o valor, a política e a moral que deve orientar toda a sociedade. Nos Estados Unidos, é a compreensão de que ser "americano" ou se integrar na sociedade como um americano é se submeter a este patriotismo religioso.

Nacionalistas cristãos integraram o grosso, senão a liderança, do violento ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando Trump inspirou uma horda de vândalos a recorrer à violência para deixar claro que não aceitariam a vitória de Joe Biden na eleição de 2020.

As cenas, imagens, fotos, todos os registros do ataque inacreditável ao coração do parlamento americano são flagrantes em mostrar vândalos brancos carregando cruzes, com bíblias na mão ou bandeiras em que se podia ler "Trump" ao lado de "Jesus salva" ou "Jesus é o Senhor".

O nacionalismo cristão é o fio condutor do famoso Projeto 2025, aquele programa ultraconservador que nasceu do ventre da organização Heritage Foundation e que está sendo seguido à risca por Trump, e cujos principais redatores hoje estão no coração da gestão do atual presidente.

Continua após a publicidade

O nacionalismo cristão é um fiador contundente da defesa incondicional de Israel feita pelos Estados Unidos, e levado à radicalização com Trump. É evidente que a comunidade judaica sionista conservadora é poderosa no país.

Mas a base de sustentação popular que legítima Trump a fazer declarações absurdas como uma limpeza étnica em Gaza, para controlar o território e entregá-lo como uma bênção nas mãos de Netanyahu, vem do mundo evangélico ultraconservador, que foi, novamente, fundamental para elegê-lo.

O discurso feito neste café da manhã é uma peça chave para compreender como Trump vai governar e pesar a mão num projeto reacionário e radicalizado para diversas frentes da realidade americana.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.